terça-feira, 28 de julho de 2009

A pátria de chuteiras.


Durante a minha infância, minha mãe não me deixava jogar bola na rua.
A pelada habitual dos meus amigos, jogada em plena via, que se não era mesmo movimentada, mas ainda assim era a via pública.
Num trocadilho infame, atrevo-me a dizer que ela não via com bons olhos esse tipo de diversão.
Em primeiro lugar vinha a escola, a lição de casa e os estudos em geral.
E assim foi.
Minhas tias sempre me davam livros de presente. Assim criei o hábito da leitura e tornei-me um perna-de-pau.
Hoje eu sou professor.
No Brasil, apesar de parecer piada, o salário de um professor de ensino médio é por volta de 490 reais.
Basta assistir a um pouco do noticiário esportivo pra ver jogadores que mal sabem falar e, no entanto, ganham rios de dinheiro.
Milhões que nos parecem tão distantes, são lugar-comum para eles.
Longe de mim questionar a habilidade desses jogadores.
Cada um é o que é.
Mas fica a pergunta: como incentivar, nos dias de hoje, o estudo, se o futebol é muito mais atraente.
Uma rápida olhada num jornal ou numa revista nos mostra ‘astros do pagode’, que cresceram nas favelas e hoje são superestrelas da música, desfilando seu ‘orgulho de ser negro’, ao lado de lindas e loiras modelos.
Qualquer show, de no máximo uma hora, custa alguns milhares de reais.
E a imprensa os exibe como exemplos de superação. Pessoas que souberam vencer na vida.
Poucas vezes alguém lembra que para cada ‘Fenômeno’ que surge no futebol ou no pagode, milhões não conseguem ser mais que jogadores de várzea ou cantores de churrascaria.
Tudo indica que atualmente é melhor ser um jogador medíocre ou pagodeiro desconhecido do que ser professor.
Estudar é pra quem não tem o que fazer.
Mera perda de tempo num mundo de futuros atletas e artistas.
Resta-me fazer também a minha parte e dizer: mãe, pai, livros custam caro demais.
Logo que nascerem os seus filhos incluam no enxoval uma bola, um par de chuteiras e um cavaquinho.
E aí está o segredo do sucesso.
Como diria o poeta: ‘Bola pra frente!!’.

Alessandro Paiva

(IN)ÚTIL

Ainda sobre a reforma e o hífen, uma regra bem útil, diz que sempre devemos usar o símbolo diante de palavras de origem tupi-guarani.
Vejam que importante, pra vocês que usam corriqueiramente palavras como ‘amoré-guaçu’ e ‘anajá-mirim’ agora já sabem.

Também não há mais motivo pra desespero na hora de usar o prefixo ‘soto’.
Ele sempre será acompanhado de hífen, como em ‘soto-mestre’.
Importante, não?!
Palavras e expressões tão comuns na nossa vida, que merecem mesmo que tenham se dado ao trabalho de incluí-las em gramáticas e manuais.
Feito o esclarecimento, peço que algum leitor mais informado, se possível, esclareça-me que diabos significa o prefixo ‘soto’...

Alessandro Paiva

A pedidos...

Atendendo ao pedido de alguns dos meus alunos, passarei a postar, vez por outra, dicas de língua portuguesa e redação.
Começarei abordando a tão discutida reforma ortográfica, que tanta dúvida tem gerado.
Vamos lá.
O hífen tem sido uma das maiores fontes de controvérsia do referido acordo. Nem mesmo os gramáticos mais famosos conseguem se entender a respeito desse pequeno símbolo gráfico.

Algumas formas de utilizá-lo são:

Com prefixo diante de palavra iniciada por H.

Para fãs de quadrinhos como eu, vejam esse exemplo => O SUPER-HOMEM nunca foi um ANTI-HERÓI.

Simples, não é?!

Outra regra, dessa vez a respeito da não utilização do hífen.

Quando o prefixo terminar em vogal e o segundo elemento começar com S ou R, duplicando-se essas consoantes.

O CONTRARREGRA esperava na ANTESSALA do consultório, onde faria um exame INTRARRENAL.

Por enquanto é isso.
Quaisquer dúvidas usem os comentários pra perguntar, que tentarei responder da melhor maneira possível.


Alessandro Paiva

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Fé de um, ou fé de outro?!

ntar

Antes que alguém venha corrigir-me, esclareço que o cacófato do título foi intencional.
Se você não sabe o que é cacófato, siga em frente e seja feliz.
Eu nunca fui muito fã de axé, nem de pagode ou congêneres. Também não gosto de forró.
Na verdade, sou um nostálgico de uma época que nem ao menos vivi direito.
Pagode pra mim é Bezerra da Silva, Dicró e Zeca Pagodinho. Forró é Trio Nordestino, Luiz Gonzaga...
O que se produz hoje é mera enrolação comercial.
Nunca fui um bom católico. Fui batizado, acredito em Deus, mas não sou praticante. Não gosto de igrejas e instituições religiosas.
Não pago dízimo e acho que o Todo Poderoso não precisará de uma parte do meu já minguado salário.
Prefiro dar esmola, uma moeda pra alguém que pede na rua e coisa do tipo.
Hoje vejo, um tanto pasmo, que as igrejas, católica e evangélicas, apelam cada vez mais pra atrair fiéis, numa tentativa ardorosa de salvar suas almas e, principalmente, aumentarem o volume de doações arrecadadas.
Recebi um e-mail convidando-me para o ‘Eletro-Cristo’. Uma espécie de 'Carnaval fora de época do Senhor'. Ou uma ‘rave’ cristã, talvez. Com Dj’s católicos, música divina eletrônica e sexo só depois de casar.
Acho ridículo um padre, de batina, saracoteando em cima de um trio, pra uma multidão de pseudo-fiéis, que não vão à igreja, mas se prestam e esse tipo de evento.
Parece-me um espetáculo tão degradante quanto um exorcismo na IURD.
Além de CD’s e DVD’s, de padres, pastores, bispos, também se pode ter a ‘cruz da terra santa', com terra de Jerusalém e água do rio Jordão.
O shopping da fé oferece infindáveis opções pra tomar o dinheiro dos fiéis, que em sua maioria são pobres e ignorantes a ponto de crer nessas bobagens.
Igrejas com milhões de fiéis pelo Brasil todo.
Imaginemos uma legião de 30 milhões de frequentadores de uma instituição religiosa qualquer: se cada um deles doa dois reais por dia, é uma quantidade absurda de dinheiro arrecadado num ano.
Melhor nem imaginar pra onde vai isso tudo.
Nunca consegui gostar de Ivete Sangalo cantando ‘Pêra aê, pêra aê, pêra aaê... ta pensando o quê? Tá pensando o quê?!’.
Imagine então ter que ver um dos padres da moda cantando ‘Pêra aê, pêra aê, pêra aaê... Jesus quer você, Jesus quer você...’.
O circo da religião está armado.
Pena que o ingresso nem sempre é barato como parece.
Pastores distribuindo envelopes de depósito durante o culto e trocando terrenos na terra por um pedacinho de ‘chão’ no céu.
Lembro de uma passagem da Bíblia onde Jesus expulsa do templo pessoas que transformavam a casa de Deus em comércio...
Espero que ele não demore pra voltar e fazer isso novamente.
Mas dessa vez um chicote não vai bastar.
Talvez ele tenha que chamar o BOPE e o Capitão Nascimento.
Depois é só botar na conta do Papa.
Aos que com certeza vão criticar-me pelo que aqui escrevi, façam à vontade.
Não cobrarei dez por cento dos seus salários pelo espaço que usarão para isso.
No mais, ficarei esperando que recomece a venda de indulgências.

Alessandro Paiva